16 de jul. de 2019

Lavagem de dinheiro: 12 parentes da ex-mulher do “mito” eram do esquema

Todos os parentes de Ana Cristina recebiam salários do Poder Legislativo (Câmara de Vereadores do Rio, Alerj e Câmara Federal) Foto: montagem HP
O Ministério Público do Rio de Janeiro identificou que ao menos 12 parentes da ex-mulher de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle, mãe do filho mais novo dele, Jair Renan, foram nomeados em cargos comissionados nos gabinetes da família.

Todos lavavam dinheiro através de salários devolvidos. A própria Ana Cristina era contratada no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro na Câmara do Rio de Janeiro. Ana Cristina viveu com Bolsonaro de 1998 a 2008.

As sinecuras foram distribuídas nos diversos gabinetes da família. Ao menos cinco deles foram também lotados como assessores no gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, entre 2002 e 2007. Eles eram só nomeados, mas não trabalhavam. Eram fantasmas e devolviam parte do que recebiam.

Ficavam com parte do salário e a outra parte era destinada ao parlamentar. Eles moravam no Estado do Rio e nunca foram trabalhar nos gabinetes onde eram lotados.

Eram eles a irmã de Ana Cristina, Andrea Siqueira Valle, a prima Juliana Vargas, a mãe, Henriqueta Guimarães Siqueira Valle, o irmão, André Luiz Procópio Siqueira Valle, e o primo André Luiz de Siqueira Hudson.

Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foram lotados o pai de Ana Cristina, José Cândido Procópio da Silva Valle, a irmã Andrea Siqueira Valle, os primos Juliana Vargas, Francisco Diniz e Daniela Gomes e os tios Guilherme Hudson, Ana Maria Siqueira Hudson, Maria José de Siqueira e Silva e Marina Siqueira Diniz.

Todos eles foram nomeados como funcionários fantasmas para o gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Alerj, entre 2007 e o ano passado.

A família de Bolsonaro era bem abastecida de recursos públicos. Guilherme e Ana Maria Hudson, tios da ex-mulher de Bolsonaro, recebiam salário bruto de R$ 9,8 mil cada enquanto trabalhavam para Flávio. A irmã Andrea e os primos Juliana e Francisco, R$ 7,3 mil. Já as tias Maria e Marina e a prima Daniela recebiam R$ 4,4 mil, R$ 5,9 mil e R$ 6,4 mil, respectivamente.

Os nomes foram identificados após decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) de quebrar os sigilos fiscal e bancário no caso Queiroz e Flávio Bolsonaro.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de 95 pessoas e empresas ligadas ao antigo gabinete de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

Entre os nomes elencados pelo Ministério Público estadual, nove eram de parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, a segunda mulher de Jair Bolsonaro e mãe do seu quarto filho, Jair Renan. Foram quebrados também os sigilos de Fabrício Queiroz e do agora senador Flávio Bolsonaro.

Os familiares da ex-mulher de Bolsonaro admitiram que repassavam cerca de 90% dos salários de volta para os parlamentares. Os depósitos eram feitos na conta de Fabrício Queiroz. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações atípicas nas contas bancárias de Queiroz.

No total foram movimentados R$ 7 milhões entre 2014 e 2017. O Coaf identificou também movimentações suspeitas na conta de Flávio Bolsonaro e, inclusive, depósitos de Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro, atual primeira dama do país.   

O MPRJ suspeita que os R$ 9,4 milhões que Flávio Bolsonaro usou para comprar imóveis subfaturados e revendê-los superfaturados, rendendo um alto lucro de R$ 3 milhões, fazem parte de um esquema para encobrir os recursos obtidos através do desvio das verbas do orçamento da Assembleia Legislativa do Rio.

Para especialistas, as contratações no mínimo ferem a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal (STF), que proíbe o nepotismo nos três poderes, e o Decreto nº 9.727 editado neste ano pelo presidente e que impõe regras para pessoas que desejem ocupar cargos em comissão e funções comissionadas na administração federal direta, incluindo autarquias e fundações.

Segundo os professores de direito público, um parlamentar pode, em um caso como esse, responder por improbidade administrativa.

Além dos familiares da ex-mulher de Bolsonaro, serão investigadas também pessoas ligadas a milícias do Rio de Janeiro e que foram contratadas no gabinete de Flávio. A mãe e a mulher do ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do ‘Escritório do Crime’, grupo de assassinos de aluguel ligado à milícia de Rio das Pedras e investigado pela morte da vereadora Marielle Franco, foram contratadas como assessoras de Flávio Bolsonaro.

O miliciano chegou a ser homenageado pelo deputado e recebeu a medalha Tiradentes, maior honraria do Rio de Janeiro, dentro da cadeia. Adriano está foragido da polícia. Sua mãe e mulher terão os sigilos bancário e fiscal quebrados. O MP suspeita das relações de Queiroz e Flávio com o miliciano. O deputado está sendo investigado entre outras coisas por participar de organização criminosa e lavagem de dinheiro.    

A reação de Bolsonaro quando soube da quebra de sigilos do filho, familiares e assessores foi dizer que “ninguém vai me pegar”. Flávio Bolsonaro e Queiroz tiveram o sigilo quebrado por indícios “robustos”, como disse um promotor – dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Mas, Bolsonaro parece achar que seus filhos têm direito à imunidade diante de investigações. Mesmo com as ameaças de Flávio e, agora, de seu pai ao MPRJ, o cerco está se fechando.

Nenhum comentário: